terça-feira, 11 de maio de 2010

Questionando o direito de estacionar




Às vezes, me revolto com as chiadeiras de alguns motoristas quando a velocidade máxima de uma via é reduzida ou estacionamentos são retirados de certos lugares. Parece que nada é mais importante do que a comodidade desses motoristas, nem a segurança ou o direito de outras pessoas.

Recentemente, retiraram algumas vagas gratuitas das ruas de Moema, o que eu acho louvável. Proporcionar o deslocamento seguro das pessoas é obrigação da prefeitura, já estacionamento, não. A retirada dos estacionamentos dá mais fluidez às vias e é defendido por dez de cada dez especialistas em mobilidade urbana. Esses especialistas só não concordam com a criação de mais faixas para carros e pedem o uso desse espaço para ampliação de calçadas, ciclofaixas ou pistas exclusivas para ônibus.

Todos têm o direito de ter um carro, mas todos têm o dever de arrumar um local privado para guardar seu bem privado. No Japão, você só consegue comprar um carro se provar que tem onde estacionar. Em Londres, você paga uma taxa anual só para estacionar seu veículo na rua, próximo de casa.

Aqui no Brasil, as ruas são apropriadas por algumas pessoas que esquecem que o espaço em frente à sua casa é público. Muito se deve à transferência de responsabilidade sobre as calçadas, que são ônus dos proprietários. A obrigação de manter a calçada em ordem gera a confusão de o proprietário considerar a rua como ampliação de sua propriedade. Em países sérios e acessíveis, quem cuida das calçadas é o governo, como ocorre com as vias.

Enquanto alguns motoristas reclamam da dificuldade de estacionar de graça, já que sempre há estacionamentos pagos por perto, os ciclistas têm de se virar, comprando boas travas e deixando suas bicicletas presas a postes, já que nem pagando os estacionamentos nos aceitam.

Quem tem carro tem obrigação de computar em seus gastos todas as variáveis. Impostos, combustível, manutenção e inclusive estacionamento. Não é justo esse ônus cair nas costas de quem não tem ou não usa muito o carro.

Vamos tentar mudar um pouco essa maneira de encarar a vida em sociedade. Às vezes, o que é bom para a coletividade pode não ser tão bom para mim, mas tenho de aceitar. É de um pouco de altruísmo que esta cidade precisa. Vamos exercitar isso? Vamos compartilhar mais, a começar pela rua, que é um bem escasso e de todos.

(André Pasqualini*
Diretor-geral do CicloBR (andre@ciclobr.com.br))

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